26.6.12

Soluções para a crise 10


Who you gonna call? Pararara para para...

Pensamento do dia

 
E é. Para quem leva com ela.

Ser híbrido



O que decerto não torna as coisas mais fáceis.

O mundo segundo Julio Cortázar


 "En el restaurante de los cronopios pasan estas cosas, a saber que un fama pide con gran concentración un bife con papas fritas, y se queda de una pieza cuando el cronopio camarero le pregunta cuántas papas fritas quiere.
-¿Cómo cuántas?- vocifera el fama-. ¡Usted me trae papas fritas y se acabó, qué joder!
-Es que aquí las servimos de a siete, treinta y dos, o noventa y ocho- explica el cronopio.
El fama medita un momento, y el resultado de su meditación consiste en decirle al cronopio:
-Vea, mi amigo, váyase al carajo.
Para inmensa sorpresa del fama, el cronopio obedece instantáneamente, es decir que desaparece como si se lo hubiera bebido el viento. Por supuesto el fama no llegará a saber jamás dónde queda el tal carajo, y el cronopio probablemente tampoco, pero en todo caso el almuerzo dista de ser un éxito."

Excerto do livro Papeles Inesperados, Editorial Alfaguara, com textos inéditos até Abril de 2009.

25.6.12

Descarga emocional

Há tempos saiu no i online uma "notícia" que nos apresentava de modo cândido o dito "salário emocional", conceito cunhado por esclavagistas de coração doce nos anais da trafulhice, visando, decerto, confortar a alma dos trabalhadores que já arranham muito por muito pouco, mesmo à beirinha de uma ladeira a pique. Parece que a Associação dos Salafrários com Dois Apelidos Finórios e Conjunção Coordenativa achou que seria uma ideia genial dar um empurrãozinho amoroso para criar habituação, como disse ao i António Brandão de Vasconcelos (pois com certeza), logo depois de passar à administração do jornal o pastel necessário para pagar as senhas de refeições dos estagiários (pois sim). Atente-se na seguinte bomba de neutrões da falta de vergonha:

"A máxima 'o dinheiro não é tudo' ganha cada vez mais força. E para o presidente da Everis pode sintetizar-se num conjunto de medidas: 'Comunicar de uma forma totalmente transparente, ter tempo para ouvir, reconhecer e agradecer o empenho e o compromisso, celebrar colectivamente os êxitos, dar espaço para as preocupações são alguns pormenores', enumera o responsável. No caso da empresa de consultoria, começa pelo trato. António Brandão de Vasconcelos faz questão de ser tratado só por António em vez de senhor engenheiro, mesmo pelos estagiários. 'Estamos em presença de uma situação win-win', concluiu."

Toni, faço-te uma proposta justa e consequente. Se puder entrar no teu gabinete sem avisar nem bater à porta, sentar-me em cima da secretária, acender um cigarro com o isqueiro que trazes na lapela, e, enquanto me peido sem clemência nas tuas trombas, espetar o cigarro nas tuas partes baixas, obrigando-te de seguida a reproduzir uma cena do filme Deliverance ao mesmo tempo que pego fogo aos teus estores, para logo te fazer cantar o "Barco Negro" com chamas em fundo, podemos negociar uns abracinhos salariais durante, digamos, uma semana, para ver como as coisas correm, pode ser?

Os ovos do Chagas

 

 Banner do Chagas na mais apropriada das páginas web




Por falar em charlatães, megalómanos e ególatras, "o Mourinho da escrita", a criatura que revolucionou a técnica redactorial no seu galinheiro e está convencido de que pôr ovos é o mesmo que produzir sintagmas, continua a violentar a rede com os seus banners importunos. Da subtil "Fábrica de Inteligência", em cuja introdução nos brinda com uma analogia do processo digestivo, à apresentação dos "Raios X", rubrica que nos deixa antever uma série de coisas excepto o fim a que se destina, passando pelo "Atelier de Joalharia de Escrita", momento de porfiosa prosa (que refere um "curso gourmet", de onde "saem textos que poderiam ser expostos num museu", objectivo eminente de toda a criação textual, diria eu; lamento, no entanto, que não refira o conteúdo em fibra da dita formação, de modo a que os textos saiam mais facilmente e com boa cor), Chagas continua a marcar pontos na vulgarização azeiteira do processo de escrita. Os seus créditos lancinantes podem ser consultados aqui, mas aproveito para lhe traçar um rápido perfil através de títulos como Já alguma Vez Usaste o Sexo sem Necessitares de Usar o Corpo, A Guerra da Secessão: 1981 - 1985, "uma obra de cariz histórico sobre a Guerra Cívil [sic] Americana", e Os Dias na Noite, "aquela que foi a sua última obra publicada nos formatos tradicionais, com apresentações a cargo do jornalista Carlos Castro e do vocalista dos Mão Morta, Adolfo Luxúria Canibal", e, consta, com a participação especial de Topo Gigio, dois unicórnios, Fernando Rosas e ainda um showcase de Elvis (Presley) a rematar. Entre as intermináveis "obras" editadas (?), contam-se a trilogia dos "Espasmos", que aguarda um terceiro tomo, assim que o autor se recompuser do segundo; uma homenagem ao pleonasmo, intitulada Chãos Pisados; obras de carácter profético, como Só os Feios é Que São Fiéis [sic], ou Porque Ris Sabendo que Vais Morrer [sic]; e coisas cuja simples menção leva a tripa a produzir involuntariamente uma arroba de palavras, como é o caso de Envelhenescer, livro já condenado pela Associação de Foneticistas Portugueses. Noto ainda que, só em 2010, brotaram nada menos que dez (10) títulos do parlapiê do Chagas. Ou, se preferirmos, dez ovos estrelados na frigideira da língua portuguesa.

Hard copy 61

O delírio vitaminado das vacas voadoras

Sinais para detecção de charlatães megalómanos e ególatras:

Recorre frequentemente a hipérboles? 

As hipérboles que usa são ostensivas e, muitas vezes, despropositadas?

Refere-se mais do que uma vez a si mesmo como "especialista"?

O texto encomiátisco que claramente redigiu sobre si próprio está escrito na 3ª pessoa?

Enfia o "ROI" algures a martelo?

Afasta-se por momentos de um untuoso tom profissional para nos dar a notável dimensão "do Homem"?

Menciona "resultados imediatos"?

A comunicação tem toda ela um tom de urgência a raiar o desespero?

A comunicação ostenta um aspecto low budget, é desprovida de originalidade e arma-se ao pingarelho modernaço, dinâmico e bem disposto, vulgo levezinho? 

O indivíduo surge bem apessoado e em pose interpelativa?

Então estamos na presença de um charlatão megalómano e ególatra de grande calibre, sem qualquer noção do ridículo.



Se porventura o nosso homem produzir mensagens liminarmente indecifráveis, de teor psicadélico, estamos na presença de um charlatão megalómano, ególatra e chanfrado. E talvez por isso lhe reconheçam afinidades com o nosso
Presidente.

A arte da lobotomia




 

David Guttenfelder (AP)


Pedro Ugarte (AFP)


Bobby Yip (Reuters)

Em Abril deste ano, o governo da Coreia do Norte convidou dezenas de jornalistas estrangeiros para fazerem a cobertura do 100º aniversário do nascimento de Kim II Sung, fundador da nação, que é imposto como deidade à população, estando interdita qualquer menção à sua morte. Uma boa forma de vislumbrar a aparente demência colectiva, cruzada com um terror mudo, é lendo Pyongyang, de Guy Delisle, livro sobre o qual publiquei um post, há uns tempos. Tenho um fascínio quase mórbido pela Coreia do Norte, talvez por não conseguir entender como, neste milénio, a subjugação pode atingir proporções tão avassaladoras e, simultaneamente, tão inanes. Uma gigantesca máquina enferrujada movida a irracionalidade, esmagando as mais pequenas formas de evolução humana, para sustentar uma oligarquia enlouquecida que fez do medo uma espécie de ópera-bufa. Pela primeira vez, fotógrafos internacionais tiveram a oportunidade de documentar a capital e as suas imediações (muitas das imagens foram captadas na viagem de comboio a caminho da zona de lançamento do foguete Unha-3, incluído nos festejos), se bem que permanentemente "acompanhados", e, como tal, condicionados, por fiscais do Governo. Mesmo assim é admirável, em informação e vivência, o que as objectivas de profissionais como David Guttenfelder, Pedro Ugarte e Bobby Yip conseguiram registar. Nós, que vemos os nossos bens morais e materiais continuamente hipotecados, devíamos pensar (e usar) mais vezes no admirável bem que possuímos.

Podem ver mais aqui.

20.6.12

O mundo segundo Scott Adams

Ou a deprimente familiaridade de Dilbert. 


18.6.12

Hard copy 60


Uma ideia tão assustadora quanto o senhor protagonista (a quem, aliás, só falta uma gadanha para a graça ser um pouquinho mais tétrica). Esta adaptação para Portugal pauta-se por uma enorme inconveniência, causada inadvertidamente pelos idiotas que a aprovaram.

O plágio é a nova criatividade


"Se não podemos pôr o cavalo a correr em slowmo pômo-lo a relinchar em Auto-Tune, 
mas estás à espera do quê?!..."

Numa crónica escrita há uns meses para o Jornal Económico, a propósito desta e daquela sirénica "controvérsia" na publicidade portuguesa, o estimado Eduardo Cintra Torres pondera o seguinte:

"Hoje, a cópia tornou-se viral; perdeu o forte valor negativo que ainda tinha no século XX. Estudantes copiam da Internet, jornalistas copiam dos outros media, escritores copiam livros doutrem, porque não haveriam os publicitários de se inspirar noutros conteúdos audiovisuais?

Nos dois casos referidos, o plágio ou cópia impressiona por estar tão próximo no tempo dos originais. Os anúncios da Optimus e da PT sacam ideias e materiais de conteúdos recentíssimos. Parece-me que o mundo publicitário desenvolveu um pacto de não-agressão, que permite aos "criativos" imitarem hoje porque poderão ser imitados amanhã. O número de ideias novas é finito, pelo que a publicidade aceita como regra do jogo entrar numa espiral sem fim de "tu copias-me, eu copio-te", sem originar, como no final do século XX, ofensas de publicitários com casos gritantes de plágio ou imitação. Tal como se copiam materialmente filmes e músicas para o computador, com três cliques no teclado, copiam-se anúncios ou vídeoclips em recriações mais ou menos plagiadas sem que o plagiado mexa um dedo. A sociedade hipermediatizada resolveu assim, pois, a espiral do plágio: banalizou-o, naturalizou-o e inocentou-o informalmente.

O espaço público na Internet não deixa escapar o crescente assalto intertextual; o mesmo aconteceu agora. Descobrir referências intertextuais é sempre um prazer, mesmo quando resultam de cópias ou plágios e não de meras inspirações. Mas, ao contrário do que sucedeu em casos anteriores, desta feita os internautas foram muito lenientes com os publicitários da PT. Julgo que o motivo é este: o anúncio da PT é visualmente espectacular e a canção "Sail" (navegar, mesmo a calhar), de Awolnation, encaixa como uma luva."

O que Cintra Torres diz é desconcertante. Por um lado evidencia o que se tornou prática quotidiana e escancarada no universo criativo. Por outro, sublinha o sentido de timing como único aspecto discutível, terminando a fazer o que me parece a apologia do plágio, baseada no preceito da boa execução. Simplesmente, e dado o flagrante aproveitamento da ideia, tom e maneira da peça que o precedeu, o anúncio em causa está no limiar do roubo, a léguas do espírito de recriação ou reaproveitamento defendido por muitos criadores ao longo de gerações, como é o caso ilustre de Mark Twain. Com base nestes pressupostos perniciosos (e convenientes?), deixaria de existir propriedade intelectual e o aforismo de Edison veria retorcida a sua lógica para "criatividade é 1% transpiração e 99% inspiração (no esforço alheio)". O trabalho criativo era para Edison, e, quero crer, é-o ainda para a maioria das pessoas que lida com ideias como modo de vida, duro e honesto. Se o mérito no processo de concepção, desenvolvimento e implementação de uma ideia (que é, já o sabemos, compósita por definição) for substituído pelo elogio da execução técnica feito por foristas virtuais amantes "da boa fotografia", qualquer Zé Careta com ideias próprias, um módico de competência e boas notas a História pode reescrever um romance de Mário de Carvalho. A editora atavia-o com uma capa dura e acetinada, desenhada por alguém que gosta especialmente do labor de, digamos, Ana Boavida e João Bicker, e teremos facilmente uma obra de grande fulgor artístico. Como se a criatividade se tivesse transformado num grande irmão da reciclagem discricionária, onde a marca de alguém é prerrogativa de todos, a pilhagem ascende a método e o estardalhaço imediato se converte em único objectivo. Faz sentido.

(Uma perspectiva pedagógica sobre o assunto, aqui.)

"A Sad State of Freedom"


You waste the attention of your eyes,
the glittering labour of your hands,
and knead the dough enough for dozens of loaves
of which you'll taste not a morsel;
you are free to slave for others-
you are free to make the rich richer.

The moment you're born
they plant around you
mills that grind lies
lies to last you a lifetime.
You keep thinking in your great freedom
a finger on your temple
free to have a free conscience.

Your head bent as if half-cut from the nape,
your arms long, hanging,
your saunter about in your great freedom:
you're free
with the freedom of being unemployed.

You love your country
as the nearest, most precious thing to you.
But one day, for example,
they may endorse it over to America,
and you, too, with your great freedom-
you have the freedom to become an air-base.

You may proclaim that one must live
not as a tool, a number or a link
but as a human being-
then at once they handcuff your wrists.
You are free to be arrested, imprisoned
and even hanged.

There's neither an iron, wooden
nor a tulle curtain
in your life;
there's no need to choose freedom:
you are free.
But this kind of freedom
is a sad affair under the stars.


(Tradução de Taner Baybars)

15.6.12

Hipocrisia ao rubro

Meanwhile, back in the U.S.A. ...

Prossegue o interminável circo em torno do próximo fantoche (y sus muchachos) a ocupar a Casa Branca. A pop star ou o facho? O suspense é de cortar a respiração.


Cartoon publicado no Manawatu Standard a 8 de Fevereiro de 2012, sobre a condenação por parte da Nova Zelândia, ao lado dos Estados Unidos, da violência na Síria.

As crianças da Síria



Hoje no trabalho enviei este link a um grande número de colegas, muitos deles com filhos, com o assunto correspondente. Ora, trabalhando em comunicação e marketing há um número suficiente de anos, creio saber reconhecer uma mensagem forte. Mesmo que para transmitir o subtexto recorra a uma imagem manipulada e tecnicamente manhosa, esta campanha fá-lo de forma objectiva, simples e dura. Não há outra maneira, e pouco interessam artimanhas visuais ou escritas. É uma mensagem poderosa para um assunto urgente. Tendo em conta que não houve uma só reacção de qualquer tipo (surpresa!), posso considerar-me, apesar das aparências, o menos cínico de todos os meus colegas. A não ser que o cinismo resida fundamentalmente na indiferença a uma nova fotomontagem com o Passos Coelho e no facto de não estremecer de emoção com mais um lolcat.

Mais aqui sobre a monstruosidade perpetrada sobre as crianças.

13.6.12

Pay the fucking writer, motherfuckers!


À minha pequena escala, compreendo tão bem esta reacção de Harlan Ellison. Bom, e não é preciso escrever, basta trabalhar em Portugal em qualquer área criativa.

Obrigado, P.

12.6.12

Estavam a pedi-las ...


 É que, francamente...

Notas terapêuticas 7

Caro P.S.

Compreendo que comportares-te como se a tua cabeça vivesse enfiadinha no teu rabiosque fosse um comportamento aceite na faculdade para autistas funcionais onde ganhaste as tuas estimadas habilitações. Compreendo também que a incapacidade de confrontar, interrogar, debater e superar as tuas limitações - e as dos outros - se possa dever a uma realidade persistentemente filtrada por ecrãs, chips e bits. Mas, à partida, a maturidade emocional encalhada num circuito qualquer não justifica tamanha palermice. Pós-graduada.

O mundo segundo Mike Nichols























"It’s all about having something to sell. I think that we have actually become pure market forces which if you recall was petitioned for us in 1840. That’s looking pretty far ahead. De Tocqueville, whose field was economics, came from France and toured this country and published his book Democracy in America in 1840. He wrote that if American democracy proceeds in the way in which it is going, it will become eventually pure market forces. And it has. That’s what we are. We’re not anything else, really. And once market forces run everything, everybody is selling all the time, everybody is a salesman all the time. And being known is part of being a salesman. You can’t sell what isn’t known; you have to have a brand. You are your brand." 

Excerto de entrevista ao site Deadline, sobre a sua encenação de Death of a Salesman, 30 Maio 2012

6.6.12

Olhos de gato

¿Quién le dirá que el otro que lo observa es apenas un sueño del espejo?

Me digo que esos gatos armoniosos
el de cristal y el de caliente sangre,
son simulacros que concede el tiempo
un arquetipo eterno."

(Excerto de "Beppo", de Jorge Luis Borges)








Arisca, Abril 2012


Instantâneos de um Aníbal social


Sinto-me observado. 


C-a-v-a-c-o... 


Sinto-me redundante.


Não têm com o meu nome?


 E o pastelinho de Belém, já provou?


Vou fazer de conta que é o Sócrates.


É igualzinho ao meu com as contas do BPN.


Eu também sou Silva, mas nós no Algarve é mais o choco frito.


Estão à espera que diga algo relevante?


Não, Maria, dá uma moedinha aos senhores, vá lá...


Sinto-me pressionado.


Sou um grande fã do produto nacional.


Maria, vem-te embora, sabe-se lá o que já andou por aí...

Cavaco, esse terreno fértil da blogosfera.

Arquivo do blogue