6.2.12

Suburban sexy 28


Chamem o Chagas.

3.2.12

A resposta está no Chagas


Chamem este gajo. Por duas dúzias de euros, um bacalhau e um bom Dão, ele inventa mais um botão e põe ordem nesta porcaria toda. "Excomunhão do Acordo Ortográfico", com a participação especial de Pomba Gira, música ambiente, massagem tailandesa e coffee break solúvel. Lugares marcados e certificados pelo Plano Estratégico Nacional de Desenvolvimento Rural. Reserve já e saiba como se livrar de consoantes infernais, acentos demoníacos e conjugações diabólicas! Se não resultar, pode sempre inscrever-se no "Clube dos Escreventes Anónimos" e partilhar as suas experiências na luta inspiradora contra a dependência morfológica e a possessão sintáctica. Pague em suaves prestações com TAEG a combinar.

"Cânones da Escrita"


Estância arqueológica para os lados da Av. de Berna.

Ainda a propósito desta questão, transcrevo um texto que a minha cunhada V. me enviou, assinado pelo arqueólogo Manuel de Castro Nunes. Não partilho o conservadorismo quase radical do autor, mas é mais uma opinião pertinente e especializada:

"Sim. Está na moda e parece bem violar as convenções e cânones de escrita. Dispensar a pontuação, subverter a lógica da sua aplicação, ordenar os vocábulos de forma caótica numa proposição, intercalar até umas tiradas em latim, desconhecendo em absoluto a gramática latina.

É, sem dúvida, uma atitude esteticamente legítima. Na presunção de que o esteta as conhece e está no seu domínio. E tem a percepção de que, em dadas circunstâncias, as convenções e os cânones da escrita inibem a sua expressão.

Mas o que é curioso é que, da negação das convenções e cânones da escrita decorra a instituição de novas convenções e novos cânones.

Mas o que é mais curioso ainda é mesmo a moda. Aproveitando a maré, aqueles que partem do desconhecimento crasso das convenções e cânones da escrita, podem dividir-se em dois grandes grupos. Aqueles que por ignorância escrevem como calha, uma cambulhada indestrinçável de vocábulos e cúmulo e aqueles que, desconhecendo em absoluto as convenções e cânones da escrita e as razões por que foram instituídas, pretendem instituir uma nova estética literária, caracterizada pela dispensa, sem nexo nem sentido, das convenções e cânones. Ora, convém recordar que a dispensa das convenções e normas da escrita por ignorância resulta em erro. E que, para um leitor atento, o erro não passa despercebido.

Dando um exemplo, eu posso suprimir muitos sinais de pontuação, encadeando as proposições umas nas outras, de forma a que nenhuma se conclua e transite ou flua para a seguinte. Mas se, salvo raras excepções, como a da intercalação de um aposto, eu intercalar uma vírgula entre o sujeito e o predicado de uma proposição, estou a incorrer em erro. Pelo menos, devo estar apto a explicar por que razão o fiz.

Um cúmulo de vocábulos não é um poema. A não ser que eu consiga explicar e o leitor compreender por que razão os vocábulos se encontram em cúmulo e que sentido resulta desse cúmulo.

Foi também por ignorância que um universo quase incalculável de espontâneos vanguardistas aderiram ao acordo ortográfico. Por não compreenderem que as línguas de matriz portuguesa, como a brasileira, já se autonomizaram e revoltaram na afirmação da sua identidade contra a língua mãe, diferenciando-se dela em componentes muito mais significantes do que a ortografia, como são a sintaxe e a semântica.

É fácil entrar na presunção de uma nova e vanguardista elegância literária por ignorância.

Por isso, uma nova geração de arqueólogos e de poetas anda convencida de que é compreensível.

Pudera. Todos lhes batem palmas… Há até quem diga de um paper de um arqueólogo que parece uma écloga de Camões. E pode muito bem ir a Nobel."

Um ar da sua Graça


Já fui um cisne, mas fiz um "downgrade" funcional.

Goste-se ou não da personalidade em questão, a razão está do seu lado. E se há coisa que não vai influenciar minimamente nem "aproximar" a grafia (e muito menos a cultura) destas nações é o acordo ortográfico. Basta ler o mais diverso tipo de textos, escritos por "altas instâncias" administrativas e operacionais, vindos desses redutos do mais extravagante analfabetismo funcional. Juntem-se essas competências à inigualável qualidade da comunicação escrita em Portugal (ah, a cultura, o ensino, a curiosidade intelectual!) e temos uma mais que previsível esquizofrenia linguística. Primeiro há que dominar a técnica e o instrumento, para depois se atacar a sonata. Não é arrancando teclas ao piano que se aprende a tocar. O critério é essencialmente burocrático-estatístico (dizer "esilístico" seria demasiado rebuscado) e comercial. Por isso, o uso merece ser arbitrário, até não haver outro remédio. Linguística e culturalmente, esta conversão é tão relevante quanto um novo corte de cabelo no progresso individual e colectivo. E como tudo o que se fez, e continua a fazer, em Portugal, o capricho bacoco vai acabar por imperar sobre o que é certo, reflectido e fundamentado.

Não há nada de estranho em incorporar evoluções numa língua, um processo necessariamente diacrónico. Mas não se confunda essas ocorrências naturais com a bizarria que é esta óbvia despenalização da calinada, produto de um bando de tecnocratas com a mundividência de uma camilha e o apetrecho linguístico de uma colher de pau, fechados semanas a fio num gabinete interior a conjecturar, a deglutir cafés e a emborcar mini-pastelaria sortida.

Eu não simpatizo com o Vasco Graça Moura, mas ele tomou uma medida correcta e, por isso, bastante corajosa.

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