30.5.11

Bestanário


O Bastonário é capaz de percorrer rapidamente o espectro da verdade ao delírio porque, infelizmente, o registo de exaltação relinchante tolda-lhe o juízo. Parece padecer de uma espécie de síndrome de Tourette, ou seja, a asneirada é compulsiva. É pena, porque semelhante trombone poderia ser bem mais útil ao país se viesse equipado com um potenciómetro que permitisse silenciá-lo quando a asnice começa a jorrar. Quando por uma vez, ainda bem que por excesso de zelo, um juiz os tem no sítio e põe uma sociopata menor em prisão preventiva, numa medida extrema mas exemplar, claro, de quem diz que esta merda não pode continuar assim, o Marinho cospe as hemorróidas numa moléstia de indignação, referindo de passagem que "um indivíduo que matou outro numa esquadra não ficou em prisão preventiva". Para quê, para exemplificar a mão leve e serena da justiça, ó sua animália galopante? Ou porque representa uma assustadora brecha no sistema? E já agora, que sistema? A pouca justiça que ainda subsiste vem pela mão dos magistrados que não se acagaçam. Dos que agem de acordo com a sua consciência e não são escravos de directrizes bolorentas. Interessa lá se foi pressionado pelos média, para alguma coisa eles hão-de servir. Terá este justiceiro autista a noção de quantos professores por esse país fora, só para dar um exemplo, viram ser exercido pela primeira vez um esboço de castigo sobre estes detritos da espécie? 

Ilustração: Beppe Giacobbe

27.5.11

Dias dos namorados

"I still feel we are beginners. I don't think having separate bathrooms is a key to a successful marriage, if you love one another. I think loving each other is the most important part of it, whether you share a bathroom or not. I don't have any secrets other than that. I found my partner, my life partner, and I really am in love with my wife and we have a lovely time and we share a long history together and children together and that's it. It's not because I do a certain gesture that she stays with me or anything. I think it's just because we love each other. I've been in my relationship for a very long time. There are always new things that happen - things that surprise you or you discover about yourself and your partner all the time. However the feeling, the lovely feeling of having been with someone for a really long time, it's not about being a beginner - it's the fact you know each other so well and you're so comfortable in each other's company. It's about where it goes from there. That's what makes our relationship, our marriage, our partnership, whatever. It is so wonderful."

Ewan McGregor, Daily Record.co.uk, 25 Maio 2011

Ilustração: Don Kilpatrick

Hard copy 37


Pois, o amor é isso tudo, mas fico com a sensação de que neste pacotinho se tenta condensar, confusamente, o princípio e o fim. Romance de pacote, suponho.

Sabes que mais?


O que distingue uma amizade de uma situação: essa forma superior de afecto que é estar-se interessado.

Ilustração: Frank Chimero

26.5.11

16 razões para mantermos presente a nossa história


Com poucos meios se pode ir muito longe, se esses meios são a inteligência e a dedicação. O trabalho de pesquisa de Susana Sousa Dias resultou num relato duro, pelo tema e pela proposta estética, cuja austeridade acaba por justificar-se plenamente, como um véu de pudor que cobre os horrores cometidos sobre presos políticos, por concidadãos seus, durante os 48 anos da ditadura. A realizadora prefere deixar o público frente aos rostos endurecidos pelas consequências da luta contra uma realidade sem voz nem sentimento, escutando relatos que transparecem dor, incompreensão e isolamento. Bem retratada fica a mentalidade dominante de um país, inevitavelmente projectada no nosso tempo, também ele mergulhado na hipocrisia (tal como, referindo-se ao clima de então, aponta uma das entrevistadas), na manipulação e na coerção das liberdades individuais. A uma outra escala, com outro folclore e, obviamente, sem a repressão violenta, mas onde estes e outros sócrates prontamente se investiriam em perseguir e cacetear, e onde facilmente recrutariam uma armada de esbirros. O oportunismo, a intolerância e a inclinação delatora estão todos lá, 48 anos passados, 37 anos passados, entretecidos na farfalhuda colcha de retalhos que é a nossa democracia.

Notas terapêuticas 4



Ao colega cujo transtorno obsessivo-compulsivo com itálicos o leva a consumir a produtividade de todo um departamento, a transtornar vidas alheias e a perturbar o fluxo cósmico em geral: dirija a sua energia para algo mais consentâneo com o seu préstimo, tal como massajar o escroto em público ou atirar-se para debaixo de veículos de grande porte. Se porventura me enganei, apresento as minhas desculpas, pedindo-lhe apenas que retire a rolha do rabo, pare com a birra e aceite que há coisas bem piores do que viver com a síndrome da pila anã.

23.5.11

Hard copy 36


Aaaaaaaaah...

Conselho de borla


O designer Olly Moss tem uma resposta muito mais realista a este aviso. E estando nós em Portugal, esta parece ser a perspectiva mais adequada.

20.5.11

Um toque de Gold






















A propósito de um artigo recentemente lido sobre "a arte perdida do poster de cinema", pesquei da net alguns dos trabalhos mais famosos de Bill Gold. Talvez este autor não seja tão conhecido nem tão imediatamente identificável quanto Saul Bass, mas não é menos merecedor de admiração. Aqui se pode ler uma interessante entrevista com o nonagenário Gold, um dos mais fiéis colaboradores de Clint Eastwood.

19.5.11

Justiça em série Z


Numa interpretação um tudo-nada superficial, o que seria de esperar de um gajo com Dominique por nome próprio, Strauss-Khan de apelido, um trombil daqueles e patrão do FMI? É claro que há sempre a presunção de inocência, mas neste caso nem bem regada a água benta se converteria em grosseira injustiça. Além disso, ele há trombis que estão a pedi-las e pronto. Se existisse justiça poética punham este gajo e o Lars von Trier num contentor, com a projecção em loop do Antichrist, e atiravam lá para dentro um rotweiller em dieta de espinafre. Ora aí está a definição do fim dos dias. Pensando melhor, o rotweiller acabava sodomizado pelo Strauss-Khan, pelo que nem cão nem projecção, que ainda sujavam os três a parede. Seria castigo suficiente ouvir o von Trier a falar em sueco da sua infância na caverna dos fiordes com a ama Hedwige e as brincadeiras eróticas envolvendo um piaçá, arenque fumado e o torniquete herdado da tetravó Theresa Berkley. Certo, o Khan arrancava-lhe uma perna à dentada, mas o Trier provavelmente ia gostar, pelo que, não, cada um no seu contentor, com um garfo de plástico e o “Loca” da Shakira em loop. Desde que fui submetido ao visionamento do Dancer in the Dark que sou assaltado por estas fantasias. Antes envolviam o Ratzinger, mas agora só depois de ele dar uma canzana à madre superiora, que o Dominique entretanto pôs-se mais a jeito.

Ilustração: Joe van Wetering

18.5.11

Notas terapêuticas 3

Outro estilo. Mais sintético, mais directo, para um público menos exigente.

Notas terapêuticas 2

Agradece-se aos colegas (nomeadamente Maria Conas e Maria Madalena), que, da próxima vez que eu necessitar do vosso apoio, retirem por um momento as respectivas línguas dos espaços interdigitais da chefia, e mesmo em posição genuflexória, com cotão nos dentes e a abanar o rabinho, acenem com a cabecita para reconhecer que eu tenho razão.

The Sperminator


Não me parece que os problemas extra-conjugais do senhor o impeçam de retomar a carreira cinematográfica. Muito pelo contrário, ele disse (com dificuldade) "I'll be back" e estava a falar a sério. Um monumento vivo às presenças tumefactas e monossilábicas do celulóide, Schwarzenegger vai voltar mais man-aço que nunca, depois de andar a soltar a sua langonha matadora fora do santo matrimónio. E eu que o tinha logo a seguir à Nossa Senhora de Lourdes e ao Dartacão na lista de grandes virtuosos. É tempo de nos prepararmos de novo para o rosto enfático do latagão austríaco, a quem a idade seguramente emprestou a vulnerabilidade do couro cru, e para o seu maciço muscular bem arrepanhado, num último acto de porradaria geriátrica. Sylvester, não estás sozinho.

Obrigado, G., pelo título.

17.5.11

Notas terapêuticas

Num site onde a  acrimónia quotidiana brota como uma incontinente fonte de bílis, vi hoje um apelo à harmonia colectiva. Mais idiota do que o normal, mas comovente.

Com isto se inicia uma nova rubrica onde tentarei, de forma mais ou menos regular, aperfeiçoar a nobre arte da notinha passivo-agressiva. Muitas houve de minha lavra que, algures entre a retenção anal e a estupidez desembestada, foram testemunho de diversos transtornos ao longo dos tempos. Felizmente deram lugar a formas (mais ou menos) evoluídas de comunicação, e perdi o jeito. Hoje em dia, encaro o renascer do post-it estrategicamente colocado como a oportunidade terapêutica de expressar de forma mais definitiva e veemente os meus sentimentos.

Hard copy 35

Este aparelho chama-se Phuket e dir-se-ia saído de Austin Powers in Goldmember. É de produção francesa mas destina-se ao mercado internacional. Oxalá não seja um manifesto de intenções.

2001 reloaded

16.5.11

Uma vez fashion victim...

Conhecida pelo seu gosto requintado e pelagem sedosa, a Arisca recusa-se a ceder à crise. Já lhe disse que pode pôr é a viola no saco. 
A propósito, preciso de t-shirts da H&M, se já estiverem a 4 euros.

11.5.11

Fluxo de consciência

Ilustração: James Yang

6.5.11

Um tipo especial

No dia em que recebo da minha amiga Ana esta imagem, perdemos a muitíssimo estimada colaboração no ateliê de um gajo muito, mas muito boa onda, a quem se aplica como ninguém esta (não tão simples) filosofia, que partilhou comigo todos os dias em que convivemos. Espero que a ausência não seja por muito tempo ou, melhor ainda, que consiga continuar a sonhar em paragens que realmente o mereçam.


É mesmo aquele abraço, P.

Epitáfio para um país (ou ode ao FMI)

Após sucessivos roubos em família, descarados  e orgulhosos, face à escassez de bens procedeu-se a uma pilhagem silenciosa da dignidade remanescente, sob olhares submissos, obnubilados e indecisamente penitentes. A comunidade, fracturada pelo peso da sua modorra, pobre e à deriva, despareceu nas águas passadas do Atlântico, embarcada numa débil balsa feita de fado e recordações. 
Imperaram os porteiros impiedosos do intocável capital, que se estavam bem a cagar para Portugal.
Ilustração: James Yang

5.5.11

Life therapy

So much to hide, so little time.

4.5.11

Alice ao sol

Quando se vir livre de todas as maleitas.
Ilustração: Elena Odriozola

Recaída

Ele há pessoas que nunca deveriam ingerir cafeína. Sobretudo quando têm uma vida em sociedade.

3.5.11

Fanáticos pela vida

Urra. O Bin Laden morreu. Os EUA são os maiores, e o Obama é um lindo príncipe vingador. É ainda melhor que o outro com favolas e ar rústico. O papa morto é o maior de todos, que até num tubo provoca comoção.
Quase tanta como contemplar um lindo espectáculo de obesidade mórbida, intriga e sudação. Melhor só com um par de síncopes cardíacas e saca-rolhas para todos em períodos hipoglicémicos. A vida, afinal, está cheia destes momentos definidores em que se percebe que, de repente, tudo pode mudar para melhor.

2.5.11

Hard copy 34

Basta juntar água.

I need an aspirina

 ... E o Pai Natal e o Capuchinho, onde é que 'tão?

A 5ª das “10 Estratégias de Manipulação Mediática”, compiladas por Noam Chomsky, reza o seguinte:

“ADDRESSING THE PUBLIC AS YOUNGER CHILDREN.

Most of the advertising directed at the general public uses discourse, arguments, characters, and particularly children's intonation, often close to the weakness, as if the viewer were a very young child or a mentally impaired. The more you get bringing mislead the viewer, the more it tends to adopt an infantile tone. Why? If you address a person as if she had the age of 12 years or less, then, due to suggestibility, it will tend, with some probability, a response or reaction also lacks a critical sense as of a person 12 years or younger."

Desta forma se poderia caracterizar 98% da publicidade actual, mas no caso dos bancos a velha táctica da imbecilização atingiu um patamar difícil de superar com as campanhas do Santander Totta. Qual Montepio a atirar pessoas do alto de edifícios, numa adequada metáfora do que acontece a quem confia em entidades bancárias. Qual Millennium e a sua corte de patetas com sorriso encandeante e ingenuidade hiperexcitada. Qual Catarina Furtado num warp espácio-temporal da CGD onde nada faz sentido, a começar pelo guião… Ná. Depois de turbas tresloucadas a saltar no meio de rochedos e a deitar fora moedas de euro, ao som da malha mais fatela das últimas duas décadas, o Santader quer espremer a carteira do inocente cidadão sob ameaça de o enlouquecer violentamente. É que a gaja não se limita a espernear ad nauseam “I need a Zero”, bela reinvenção do hino imortal de Bonnie Tyler, rainha do épico da tripa e Miss Bifa Portimão 1983. Não, aquela coisa alapa-se ao inconsciente e martela-nos na alma até os suores frios e o delírio nos fazerem abrir conta e subscrever 26 serviços.
Estas campanhas, com as suas coloridas e debilóides declinações, fazem da publicidade à Evax uma demonstração de maturidade e clareza, dos anúncios do Pingo Doce um exemplo de contenção, daquelas coisas da Meo um… Bom… da Meo talvez não.
Obrigado, V., pelo pretexto.

Ontologia do mau feitio

Tornei-me benchmarking da insatisfação. 
Constatei isso há uns dias, quando uma colega me tomou como "exemplo" (ou seria pretexto?) numa reivindicação sua. E de repente lembrei-me da escola preparatória, do liceu e da faculdade. Era um chamamento! Estava predestinado!

Beatificação popal

A presença de ilustres (e santas) figuras como Berlusconi e Mugabe foram a única coisa que achei coerente na manifestação de histeria pop-religiosa que os meios de comunicação nos espetaram p’los olhos adentro, escarafunchando na orgia de atavios, adereços e eunucos como uma chusma de paparazzi no cio. Dois tamanhos trastes no evento deram um toque de realidade ao circo de óstias e vestes acetinadas que a igreja montou para se reabilitar publicamente. E não nos fazem esquecer que, em tempos de aflição, o povo precisa mesmo é de forma sem substância: o Rottweiler a regurgitar em latim, o freiral em frenesim por sair à rua e um exército de parasitas a arejar a sotaina. Com tanto saiote e gajedo exaltado à volta de uma ampola espanta-me que não tenham apanhado o Silvio a alçar a perninha para marcar território. Milhares de peregrinos? Pois sim, se calhar o orçamento não chegou para irem aclamar a Kate e o outro tipo a arrastarem-se numa charrete forrada a talha dourada, cujos arreios custam mais do que três temporadas de bola na bancada principal.
Este processo de espiritualíssima burocracia é anacrónico, hipócrita e genericamente inane, mas isso pouco interessa à igreja. O simbolismo maior que daqui se retira não é o do persistente poder da Bíblia. É a adequação perfeita do regime eclesiático à santa palavra da revista cor-de-rosa.

Arquivo do blogue