28.8.09

Suburban sexy 14



Foto alheia e de proveniência desconhecida.
Mas oportuna.

Mala sangre



De acordo com o site do Instituto Português do Sangue, pode dar sangue quem “tiver bom estado de saúde, hábitos de vida saudáveis, peso igual ou superior a 50kg e idade compreendida entre os 18 e os 65 anos”. Com a medida do Ministério da Saúde, que exclui os homossexuais masculinos da dádiva, torna-se óbvio que um homossexual adulto é, por definição, um tresloucado irresponsável que pina como quem come rodízio, expõe-se ao HIV com alegre inconsciência e vai dar sangue para passar o tempo. De acordo com o protozoário de água salobra que está à frente do Instituto Português do Sangue e que é, ele sim, uma infecção generalizada, “Se a pessoa estiver anémica, a tomar medicamentos ou se for heterossexual e tiver tido um novo parceiro nos últimos seis meses, também não vamos aceitar esse sangue. O problema é que o heterossexual aceita e o homossexual não aceita. Diz que é discriminado”. O que este invertebrado não compreende é que com semelhante raciocínio, se é que tal designação se aplica, está, simultaneamente, a estigmatizar um vasto grupo de pessoas distintas, que retrata como crianças caprichosas, e a revelar a fragilidade dos métodos de rastreio do IPS. Não se minimiza o risco excluindo grupos, mas sim indivíduos, de acordo com o seu comportamento de risco, sejam eles homossexuais ou heterossexuais. A dádiva de sangue, como o nome indica, é uma manifestação individual de solidariedade que decorre da consciência cívica e de um grau elevado de responsabilidade e responsabilização sociais. Se é certo que não são critérios suficientes para erradicar problemas, são motivos mais que evidentes para evitar semelhante declaração institucional. O MS, no seu acéfalo desígnio, elege os seus dadores com a pesporrência de quem escolhe serviçais. Reze o senhor director para que nunca precise, pois quem sabe não lhe viesse a correr nas veias o sangue de uma maricona amiga e asseadinha, de seu nome Janete Samanta, dançarino de cancan numa chafarica do Cais de Sodré.

24.8.09

Na boca de toda a gente

Ainda não andam, mas vão andar. É a nova leva de actores e actrizes cujo talento (e outros atributos) já não passa ou não passará despercebido nos tempos que se avizinham. Alguns arriscam o estrelato imediato, graças a filmes de altíssimo perfil, outros poderão levar mais tempo a afirmar-se e a ter o seu nome pronunciado sem hesitações pelo espectador mais interessado, mas é um dado garantido que, com próximos ou futuros trabalhos, esta malta vai dar que falar.



Chris Pine
Se há actor talhado para o estrelato hollywoodiano, nascido e criado no meio (é neto da actriz Anne Gwynne e filho do actor Robert Pine), com talento quanto baste e físico de poster, é Pine, que não desperdiçou a oportunidade de demonstrar em Star Trek a fibra que é precisa para comandar o ecrã. O novo Capitão Kirk vai surgir no filme de terror Carriers, rodado antes do blockbuster de J.J. Abrams, e já filma Unstoppable, de Tony Scott, ao lado de Denzel Washington.



Sam Worthington
O quase desconhecido que James Cameron elegeu para protagonista de Avatar (CGI à parte) deu nas vistas na produção australiana Somersault, com Abbie Cornish, já partilhou o ecrã com Christian Bale em Terminator Salvation, vai ser Perseus no remake de Clash of the Titans, e encarnar um agente da Mossad, ao lado de Helen Mirren, em The Debt, de John Madden.



Carey Mulligan
Actriz britânica de 24 anos, Mulligan tem um curto currículo profissional que inclui a mini-série “Bleak House” e a adaptação de Pride & Prejudice por Joe Wright. Apareceu fugazmente em Public Enemies, mas vai ser a sua elogiadíssima interpretação em An Education, de Lone Scherfig, com argumento de Nick Hornby, a dá-la a conhecer ao mundo. Graças a esse desempenho foi contratada por Oliver Stone para a sequela de Wall Street.



Joseph Gordon-Levitt
Está longe de ser um novato, mas 500 Days (of Summer), se devidamente publicitado e alvo do mesmo boca-a-boca que fez dele um êxito nos E.U.A., pode ser o filme a colocar Levitt no patamar de leading men para as novas gerações. Depois deste, vem Inception, o aguardado thriller de Christopher Nolan.
E vamos esquecer o “episódio” G.I. Joe.



Amanda Seyfried
Se não lhe sabem o nome, o rosto já o viram, se não na série “Big Love”, da HBO, seguramente numa das intermináveis ocasiões em que Mamma Mia brotou de um qualquer ecrã, por esse mundo fora. A verdade é que foi este fenómeno de popularidade a chamar a atenção para a actriz norte-americana, que, desde então, não tem parado de filmar. Em breve vê-la-emos em Jennifer’s Body, comédia de horror escrita por Diablo Cody (Juno), Chloe, drama de Atom Egoyan, ao lado de Liam Neeson e Julianne Moore, e em Dear John, de Lasse Hallström.



Anthony Mackie
Actor de composição, treinado nos palcos e nos sets de televisão e de cinema, discreto (na entrega de prémios do Festival de Cinema do Estoril mostrou a sua descontracção e simpatia) e sem medo de arriscar, Mackie é um dos mais promissores actores norte-americanos. Desde a sua estreia no grande ecrã, em Brother to Brother, tem sido possível vê-lo em papéis secundários que demonstram grande versatilidade e vontade de evoluir: 8 Mile, The Manchurian Candidate, Million Dollar Baby e We Are Marshall são alguns exemplos. Foi protagonista do pior filme de Spike Lee, She Hate Me (má sorte) e, no filme certo com um papel à sua altura, The Hurt Locker, está à beira de alcançar o estatuto que merece.



Saoirse Ronan
Levará seguramente mais tempo a afirmar-se, com uma progressão natural para papéis adultos que premeiem o seu talento, se a sua carreira for bem gerida, mas o desempenho desta muito jovem actriz irlandesa (16 anos) em The Lovely Bones, de Peter Jackson, baseado no best-seller de Alice Sebold, será mais um passo decisivo na construção do seu "pedigree". Com uma nomeação para o Oscar de Melhor Actriz Secundária no saco, por Atonement, e outra interpretação aplaudida em Death Defying Acts, de Gillian Armstrong, o futuro avizinha-se risonho para Saoirse (Sir-sha).



Romola Garai
Em Atonement também se notabilizou Garai, outra britânica de admirável talento que se estreou no cinema em 2002 (Nicholas Nickleby) para prosseguir uma carreira relativamente discreta, mas interessante, que também tem passado pelo teatro e pela televisão. Versátil, atraente (faz lembrar uma Julie Christie em jovem) e com uma dedicação evidente à sua arte, Romola Garai tem escolhido com cautela os seus trabalhos. Na calha, o filme Glorious 39, de Stephen Poliakoff, com Bill Nighy e Julie Christie, e The Other Man, de Richard Eyre, com Liam Neeson e Laura Linney.



Michael Fassbender
Bastaria ver Hunger para perceber porque é que este irlandês de ascendência alemã figura na lista. Mas também há um esquecido thriller britânico, Eden Lake, com outra interpretação física e psicologicamente admirável por parte de Fassbender. Seguem-se Inglourious Basterds, onde substituiu Simon Pegg, e, num claro ensejo de atingir outras audiências, Centurion, de Neil Marshall, e Jonah Hex, filme de acção com Josh Brolin.



Christoph Waltz
Aparentemente vindo do nada, o austríaco Christoph Waltz, a fazer fé na crítica, rouba o spotlight e varre o chão com Brad Pitt no novo Tarantino, de tal forma que o marketing da Weinstein Co. colocou o rosto do seu Coronel Hans Landa em proeminência no cartaz de Inglourious Basterds, e já se lhe garante uma nomeação para o Oscar de Melhor Actor Secundário na próxima edição dos prémios da Academia. Nada mau, para um profissional de 53 anos, residente em Londres, esquecido no limbo de papéis alimentícios em teatro e televisão.



Abbie Cornish
Bright Star, de Jane Campion, relato da história de amor entre John Keats e Fanny Brawne, irá fazer toda a diferença na carreira da australiana Abbie Cornish. Considerada uma das grandes promessas do cinema local, é pela mão de Campion que a actriz atinge a maioridade, com um desempenho aplaudido pelo público e pela crítica internacional, aquando da estreia do filme em Cannes. Depois de uma incursão americana em Stop/Loss, tentará fortalecer o seu estatuto com Sucker Punch, de Zach Snyder.



Rupert Friend
Em 2009 partilhou o ecrã com Michelle Pfeiffer em Cheri, de Stephen Frears, e com Emily Blunt, em The Young Victoria. Tem perfil de galã, bom instinto para escolher papéis e a técnica da melhor escola de representação britânica. E o mundo há muito que espera por um novo Jeremy Irons.



Zoë Saldana
Norte-americana filha de pais dominicanos, a ex-dançarina Zoë Yanira Zaldaña Nazario é dona de uma beleza exótica que tanto poderá ser o seu passaporte para o sucesso como para o fracasso, a ver pelos papéis que são habitualmente destinados a protagonistas “étnicas” nos E.U.A. Saldana é uma actriz talentosa, com presenças sólidas em filmes como Drumline, Vantage Point e Star Trek. O principal papel feminino em Avatar é seu, mas imagino que em versão digitalmente transfigurada. Se a escolha de integrar o elenco dos filmes de acção Takers e The Losers (mais um comic book a ser adaptado ao cinema) sugere um percurso à la Halle Berry, pode ser que o tempo e a oportunidade façam Saldana romper o molde.



Jeremy Renner
Quem viu The Hurt Locker, o fabuloso filme de Kathryn Bigelow, sabe que nasceu uma estrela de cinema. É impossível Hollywood ignorá-lo. Este californiano de 38 anos destila carisma e intensidade, atirando-se com unhas e dentes a uma personagem que precisava de um grande actor para se tornar palatável. É injusto dizer que se trata do único excelente desempenho do filme (Anthony Mackie e Brian Geraghty merecem uma menção), mas é seguramente o mais poderoso. Para trás fica a presence sempre eficaz em Lords of Dogtown, North Country, 28 Weeks Later e The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, entre outros.



Lucy Punch
Parece improvável que uma actriz com semelhante nome se torne cabeça de cartaz de uma produção séria, mas desde Kevin Bacon que tudo é possível. A verdade é que esta ainda desconhecida britânica, com um trajecto que inclui a bem recebida mas efémera série “The Class”, Being Julia, com Annette Bening, e a comédia Hot Fuzz, com Simon Pegg, foi contratada por Woody Allen para substituir Nicole Kidman no seu próximo filme, e Steve Carell escolheu-a para um dos papéis principais no remake americano de Le Diner de Cons, de Francis Veber, um dos maiores sucessos do cinema francês, que agora conhecerá uma versão intitulada Dinner for Schmucks, dirigida por Jay Roach.

20.8.09

As três torres



Num audaz cruzamento entre clonagem, biónica e literatura didáctica infantil, o CDS-PP coloca Ferreira Torres na corrida ao poleiro do Marco de Canavezes com esta pujança multiplicadora. Só é pena a roupinha impoluta, de quem não tira a peida do clube de caçadores, a postura de adorno taxidérmico e aquela vaga e única expressão. Isto é um homem que respira acção e espontaneidade.

19.8.09

As minhas reuniões...

... Eram mais produtivas do que as tuas.











Para a Sara, porque não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe.

Conflito interior (só com adjectivos)



Instalação de Fred Eerdekens

Aos meus amores



Tive de me obrigar a situar os meus afectos. Teve de ser, já não conhecia pertença e isso não fazia de mim o rebelde obscuro que julgava ser, mas sim um pobre solitário de cabeça perdida. Não posso dizer que esse caminho tenha sido uma opção, mas também não é o meu destino deambular por aí a massacrar-me com todas as causas perdidas e a questionar a transitoriedade dos sentimentos. A vida é mais urgente, e também não dura muito. Além disso estava enganado, porque há um apego, mais forte do que o tempo e mais largo do que o espaço, que, quando é preciso, nos anima, nos fortalece, dá uma expressão rica aos tons e às formas da cidade que nos cerceia, outra luz às pessoas que nos oprimem, um timbre equilibrado à razão descompassada. Um afecto tão forte que, de uma penada, nos acorda para a variedade de motivos, escolhas e alegrias. O vermelho e o preto enchem-se de nuances. Os fantasmas ainda turvam a vista, mas estão apaziguados.

Obrigado, Rita.

Pintura de Fernand Léger

17.8.09

16 filmes a ver, 16 posters para lembrar































Aquela máquina



Descobri Florence + The Machine estas férias, numa ocasião triste, a olhar as estrelas do ceú algarvio. Podia ser uma coisa toda prosaica, pese o gigantesco lugar-comum, mas estava a tentar fazer abdominais num banco de ripas, coberto por uma samarra de calor, com a ténue esperança de que um raio quasar desgovernado me fulminasse. Além disso, o céu algarvio não tem nada de poético, especialmente quando está povoado por lasers e holofotes de discotecas foleiras. Em terra a agitação era outra, e para me alhear do ribombar distante da feira medieval coloquei os auriculares e dei uma hipótese à menina com visual entre o esotérico e o par de estalos. A capa do disco, farfalhuda, ostentava o título Lungs, e, tendo como referência a restolhada eléctrica do single “Kiss With a Fist”, esperava o pior. E é que não. Dá farto uso aos pulmões, mas de forma original e muito, muito entusiasmante, trazendo para o centro da minha neura o corropio feroz de um baile arcaico e luxuriante. Nas oscilações rítmicas e vocais ora se mostra fantasmagórica ora se mostra calorosa, sanhuda ou carente, vulnerável ou insubmissa. Dir-se-ia um bom caso de estudo de patologia bipolar. O certo é que o inicial e aparente desnorteio de arranjos se transforma num todo coeso e engenhoso, capaz de arrancar uma reacção enfática à mais encoberta das letargias. Não me fez lembrar Kate Bush (enfim, talvez o lirismo críptico e algumas orquestrações) mas antes uma Fiona Apple cheia de apetite por sexo e folclore. Qual feira, qual quê, a festa estava toda aqui.

Suburban sexy 13

A vida deu-me uma tampa?



Guardo isto há cerca de 20 anos. Fez todo o sentido na altura como lema de vida. Cada vez faz mais. Mas, como se vê, a motivação está algo desbotada.

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