29.4.08

A geografia da felicidade


Foi no domingo que um S. Jorge à pinha e cheio de calor se deixou contagiar pela espontaneidade de Poppy, a heroína afirmativa de Mike Leigh em Happy-Go-Lucky. Até à data, a melhor fita das três que vi no Indie Lisboa 08. Não tem a densidade habitual dos filmes de Leigh, não é um drama e apesar do estrato social representado ser o mesmo de sempre, há por aqui algo de energicamente positivo que passa muito pela vivência pedestre e pelintra. Existe um lado sombrio, representado sobretudo pela personagem de Eddie Marsan, mas é atonal no contexto do filme, o que nos leva a pensar que o realizador não quis prescindir totalmente da grittiness que o caracteriza. Alguma ambiguidade à parte, Happy-Go-Lucky, com os seus diálogos espirituosos e tom solarengo, revela-se um hino à alegria de viver e de acreditar nos outros – sim, o pressuposto é assim tão tonto – por oposição à pandemia de frustração e de ressentimento que minou o nosso quotidiano. Sally Hawkins tem um desempenho notável, no limite do exasperante, mas sempre capaz de fazer sobressair a humanidade da personagem e, claro, de ganhar a nossa simpatia. Menos trivial e mais empenhado do que aparenta ser, Happy-Go-Lucky mostra que devia haver mais Poppys neste mundo, mas, possivelmente, não demasiadas.

24.4.08

Paixoneta



Aquela lua responsável por um simulacro romanesco já não estava lá. Dois dias seguidos a pressentir salteadores ao virar da esquina, coches em corrida desenfreada, gritos mudos de damas de branco, sobressaltos com história e arremedos de paixão desabitada. Uma alma triste à beira de uma fonte espectral... Triste, sim, mas forte e identificada. Que bem me ficaram a Rua do Salitre e o folclore assanhado. Hoje, mais nada. Só um ar turvo. Por onde anda agora a lua que derrubou a frieza dos locais que não nos reconhecem, dos passos repetidos vezes sem conta, dos dias...

Rameira, rameira quem és tu ou a badalhoca virtual


Dia 12: say what?

Algures entre Charlie Kaufman, uma dose de anfetaminas e a comédia que David Lynch não fez, situa-se Luís Pedro Nunes. Dito isto, uma “aula” com tal personagem não pode traduzir-se apenas por palavras: teria de a ilustrar com variadas e sonoras onomatopeias, cores berrantes e imagens desconexas, terminando possivelmente no clássico cogumelo nuclear. Não sei muito bem o que se passou ali, nem se foi útil no sentido tradicional do termo. Muita coisa deixou momentaneamente de fazer sentido, a tradição humorística sofreu um rude golpe e eu fiquei ainda mais deprimido. A verdade é que é difícil antipatizar totalmente com uma figura tão pícara. Até ele dizer qualquer coisa mesmo, mas mesmo intolerável, ou nos trespassar com um comentário cheinho de verrina. Pronto, agora a sério, vá lá…

23.4.08

Dia 11: um guionista bem orientado

João Quadros pairou sobre a turma com ideias soltas, histórias de bastidores, textos inspirados e textos desesperados, dicas úteis, pressupostos motivacionais, projectos vindouros, o vil metal e o imaterial. Foi uma aula interessante mas que, em termos práticos, pouco ou nada acrescentou à nossa formação. Tiro-lhe o chapéu pelo percurso de sucesso, pelas concessões e pela frontalidade. Haja guionistas que se saibam vender para conseguir levar os seus projectos avante. Não lhes caem os parentes na lama pelas eventuais merdas que fazem.

O sonho de um publicitário



(Livra!)

22.4.08

Era uma vez na América



Hillary, Hillary, a história do papão continua a ser eficaz, verdade? Junta-se uma voz tão confiante quanto cavernosa, uma musiquinha reptilínea e nauseantemente patriótica, um tom escuro, planos enviesados, uma criancinha de pijama... e temos o quê? Um dígito acima de Obama? Pff, baldei-me para o Barack.

Ele acredita



Bem distintos têm sido os percursos dos protagonistas de "The X Files", uma das séries de TV mais marcantes dos anos 90 e um marco seminal na história do entretenimento norte-americano. Tão seminal, de facto, que, para além de dezenas de pastiches ou de cópias descaradas, gerou o seu próprio filme, originalmente intitulado The X Files. Dez anos depois, David Duchovny mostra o rabo em "Californication", depois de várias fitas fracassadas, e Gillian Anderson vive em Londres, onde faz televisão de prestígio, incursões pelo West End e alguns filmes obscuros não desprovidos de interesse. Chris Carter, o homem por detrás do universo obscuro e elaborado dos "Ficheiros", achou que os fãs mereciam um desfecho (ou um reinício, consoante a perspectiva) adequado, que contornasse as muitas imposições comerciais das últimas duas séries e a falibilidade dos argumentos, que começavam a não conseguir juntar todas as peças de uma imensa galeria de personagens e teorias. The X Files cristalizou um imaginário e um vocabulário próprios e acabou por definhar dentro do seu próprio casulo. O filme, que aproveitava para dar um sentido rotineiro a algumas pontas soltas, acabou por se revelar um condensado de lugares-
-comuns e uma desilusão para todos os que vibraram com a mística pessimista e o mood inquietante que Carter idealizou. Mais do que ressuscitar uma série ou um franchise (não houve sucesso que o justificasse), o autor recupera um conceito, tentando talvez provar que as boas ideias não têm prazo de validade, ou simplesmente capitalizar nos nostálgicos fiéis de 9 anos de emissão televisiva. Seja como for, para satisfazer velhos e novos seguidores, Chris Carter, que desta vez assume a realização, vai ter que corresponder a expectativas muito, mas muito altas. O filme já tem um título. Para além da frase indelevelmente associada a Mulder, pode bem representar o credo do realizador: The X Files: I Want To Believe.

I want to believe












Hoje é o Dia da Terra... Hoje?

21.4.08

Money talks, and bullshit walks.










("Bobbi Flekman", This Is Spinal Tap)

Um cão nunca morre só



Mesmo que não olhes em redor
E que recuses a sua dor
Ele é teu irmão, ele é teu filho
E foi o que quiseram que fosse

Fazes por cegar a tua culpa
Esquecer, ignorar
Percorres outro trilho
Onde não te gritam nem perseguem

Mas foi esse caminho que nos uniu
Que aproximou as solidões
Que irmanou o medo e a vitória
Num silenciado abraço fraterno


(A partir de "Dog eat dog", de Joni Mitchell)

Foto: "Man Krakow Night", Anne McAulay

Self portrait.Elvis.



Noah Kalina, série What Happens in Vegas...


(Obrigado, Alex)

18.4.08

Je suis blasé



Pôrra, estes gajos são altos.

O Principezinho e o pecado social V

Para o diabo com as restrições, venha a nós a transgressão.














E porque um cão nunca morre só...

Dia 10: um impasse & um cão suicida


Ontem tivemos uma aula um bocadinho à cão com o Gato Fedorento. Com o Gato amputado, porque só dois puderam comparecer. Por um lado entendo que a coesão de cada módulo se encontre no final do mesmo, por outro custa-me aceitar que um curso não tenha um programa mais redondo. É certo que as PF não são uma faculdade e que os “docentes” têm muito mais que fazer para ganhar a vida. Ainda assim, esta formação merecia mais investimento em termos de coordenação e de solidez. Quando se passa para outro módulo há sempre um vazio, sobretudo quando as sessões são poucas. A ideia de continuidade fica esboroada o que, com as constantes mudanças de calendário e o horário tardio, exige um recomeçar cansado por parte dos discentes. Exemplo disto foi o two man show de Tiago Dores e Ricardo Araújo Pereira, que talvez não tenha encontrado uma plateia com disposição à altura do virtuosismo dos oradores. Esforçaram-se, dadas as circunstâncias – temporais, climáticas, clubísticas e outras que tais –, mostraram-se disponíveis e repletos de referências, mas a razão maior daquela presença, para nós, foi a oportunidade de contactar com indivíduos que são um paradigma de sucesso pelas próprias mãos, num universo onde quase ninguém com talento merece reconhecimento. Tipos que escrevem e executam o seu trabalho em relativa liberdade. Ajoelhai perante o ídolo! Deu para sentir o pulso aos métodos e às motivações e foi simpático perceber no Tiago um gajo franco, inteligente e com uma necessária dose de humildade. A presença e o discurso de RAP ajudaram a explicar a razão da minha resistência ao humor do Gato. Mais um motivo para surgir como cão raivoso aos olhos dos meus pares e ser um outcast em geral. Mas que se lixe, o humor (como as opiniões, de resto) discute-se e, se possível, digladia-se.

(Ilustração: Robert Goodin)

A bad punchline





17.4.08

Dia 9: Nunca subestimes o poder de uma peruca



Make 'em laugh
Make 'em laugh
Don't you know everyone wants to laugh?
My dad said : "Be an actor, my son. But be a comical one."
They'll be standing in lines for those old honky tonk monkeyshines.
Now, you can study Shakspeare and be quite elite. And you could charm the critics and have nothing to eat. Just slip on a banana peel, the world's at your feet.
Make 'em laugh
Make 'em laugh
Make 'em laugh

A Neuza subiu à cena. E talvez tenha sido um bocadinho demais para mim. Correu bem, mas tenho de concentrar esforços em melhor escrita e menos folie.

("Make'em Laugh", Donald O'Connor)

Pupu's malaise



Ilustração: Richard Scarry

15.4.08

Os problemas, hoje

Gostei muito de estar contigo ontem, mesmo se só um bocadinho e naquelas circunstâncias. Os amigos fazem falta, sabes. Fazem-me falta. E, sinceramente, tenho saudades do tempo em que as nossas preocupações e correrias eram bem mais triviais. Quer dizer, nunca o foram verdadeiramente, ou na totalidade. Mas havia mais tempo, não havia? E mais gozo.

O Principezinho e o Pecado Social IV

















Capturo non sedest in dubita ex pacem ordinatum dico inter cusum justi propositi tuum. Bonum capitum es.

Não te deixarás capturar indevidamente pelas forças da ordem, pois farás as coisas como deve ser. Se é que me entendes.

Late night worker

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